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XI-APS-32840 - Literacia Medicamentosa: uma abordagem sociológica

 

Noémia Lopes, Carla Rodrigues e Elsa Pegado

Comunicação Oral

 

A literacia medicamentosa é uma categoria recente usada para designar as competências de utilização dos medicamentos (Raynor, 2008). Ainda que indissociável da literacia em saúde, a emergência desta nova categoria, a sua crescente visibilidade e a autonomia que tem assumido face à sua matriz original, sinalizam uma nova normatividade social no uso dos medicamentos, bem como a sua crescente disseminação em esferas cada vez mais amplas do quotidiano. O potencial analítico desta categoria e a sua própria relevância social, apresentam-se reféns de uma visão instrumental da literacia, confinada à medição de um conjunto de conhecimentos e competências, face à qual estão a surgir reflexões mais críticas.

Nesta comunicação pretende-se: (i) problematizar a noção de literacia medicamentosa, explorando a sua contextualidade social; (ii) equacionar procedimentos metodológicos para a sua operacionalização; (iii) dar conta da relevância social desta temática no quadro da crescente farmacologização do quotidiano. Para tal, recorre-se aos ainda escassos contributos sociológicos emergentes sobre a literacia medicamentosa e, conjuntamente, exploram-se os procedimentos de operacionalização para a recolha de dados neste âmbito, tendo por base um projeto de investigação em curso sobre o uso de medicamentos para a melhoria do desempenho (PTDC/SOC-SOC/30734/2017). Deste modo, visa-se sinalizar os limites da abordagem dominante sobre a literacia medicamentosa, perspetivada esta como competência e investimento individual, e proceder à sua problematização através de uma outra abordagem da literacia enquanto prática social (Samerski, 2019), isto é, enquanto conhecimento contextualmente construído e coproduzido nas relações sociais. Trata-se, assim, de transitar de uma conceção individualista e funcional de literacia para uma conceção socialmente contextualizada (Chinn, 2011).

A pertinência deste enfoque sobre a contextualidade social dos processos de construção da literacia (medicamentosa) acentua-se, desde logo, face ao atual quadro de crescente disseminação do uso do medicamento. Mas decorre, também, da crescente autonomia no acesso à informação sobre o medicamento, em particular no âmbito de consumos para a melhoria do desempenho (físico, cognitivo ou relacional), como o atestam os resultados anteriores de investigação sobre este tipo de consumos e sobre as suas fontes de informação (Clamote,2010; Lopes et al,2014). Enquadrar a literacia medicamentosa na sua dimensão sociológica, não só constitui uma condição necessária para captar as configurações diversas de construção e mobilização da literacia no âmbito dos consumos medicamentosos, como também abre espaço para o afinamento metodológico dos procedimentos da investigação neste domínio.

Palavras chave: literacia medicamentosa; prática social; farmacologização; medicamentos  

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