Tavares, D., Lopes, N, Gonçalves, C.M., «Transformações no trabalho: o caso dos jornalistas», 7º Encontro Anual de Economia Política, Associação Portuguesa de Economia Política, Instituto Superior de Economia e Gestão (Lisboa), 27 de Janeiro de 2024.
Resumo:
A proposta desta comunicação é analisar as principais transformações que estão a ocorrer no domínio do trabalho, tomando como referência os jornalistas. A análise tem por base o conhecimento produzido no âmbito de um projeto de investigação financiado pela FCT (PTDC/SOC/30734/2017) em que se pretendia captar as dinâmicas do uso de medicamentos e produtos naturais para a melhoria do desempenho físico intelectual e social em grupos profissionais cuja atividade está sujeita a elevada pressão, resultante de mudanças observadas nos contextos de trabalho. A estratégia metodológica privilegiou, em fases sequenciais, a adoção de métodos mistos, com recurso a diversas técnicas de investigação sociológica de pendor quantitativo e qualitativo, nomeadamente os grupos focais, o inquérito e a entrevista.
Os jornalistas constituem um exemplo paradigmático de tendências dominantes nas sociedades capitalistas contemporâneas no domínio do trabalho, em que se insere a projetificação do trabalho. Em termos estruturais, salientam-se as práticas e orientações dominantes de gestão, assentes na consagração de formas de organização do trabalho baseadas em projetos ou tarefas específicas, reguladas predominantemente através de contratos de curto prazo, com recurso a trabalhadores temporários e outras formas contingentes de emprego, com efeitos na precarização dos vínculos contratuais, resultante da desregulação do mercado de trabalho. Este cenário, a par do contexto de aumento das inovações tecnológicas que influenciam globalmente o processo de mudança no seu conjunto, tem consequências na emergência de um novo tipo de jornalismo (jornalismo online, cyber-jornalismo ou jornalismo em rede) e na recomposição do grupo profissional que inclui cada vez mais novos segmentos (freelancers, bloggers ou instagramers), num quadro de maior diferenciação, heterogeneidade e fragmentação.
As alterações estruturais são acompanhadas de alterações nas práticas profissionais e nos tempos de trabalho. No primeiro caso, expressam-se na substituição de tarefas e competências tradicionais por tarefas e competências tecnológicas e digitais com efeito na maior padronização das tarefas profissionais, bem como na maior polivalência na execução do trabalho e no consequente desempenho simultâneo de múltiplas tarefas e funções. Por sua vez, a intensificação da carga e dos ritmos de trabalho reflete-se nas alterações dos tempos de trabalho que colocam os profissionais em contacto permanente com o trabalho e no aumento do desgaste físico, intelectual e emocional.
Palavras-chave: Transformações no trabalho; Recomposição profissional; Práticas profissionais; Tempos de trabalho; Jornalistas.